Descobrimos os Heróis passenses da Segunda Guerra Mundial
- Guia Paparazzo
- 23 de out. de 2020
- 9 min de leitura

O dia 08 de maio de 1945, chamado Dia da Vitória, marca a data em que os países aliados derrotaram a Alemanha nazista, dando fi m à Segunda Guerra Mundial, maior confl ito bélico da história da humaniO dade. 70 anos depois, relembramos a participação dos expedicionários passenses e suas histórias de lutas através das memórias de seus familiares. O ano de 1944 foi marcante para um grupo de jovens passenses, na casa dos 21 anos e uma correspondência, recebida com apreensão, seria capaz de mudar para sempre o destino daqueles rapazes.

Era a Carta de Chamada Individual, dando conta da convocação para a guerra e chamando estes jovens a compor o Serviço Ativo do Exército Brasileiro. A partir de então passavam pelo Curso de Formação de Graduados. Os expedicionários, ou pracinhas, lutavam pela FEB – Força Expedicionária Brasileira, que teve como principal ação militar a organização da campanha da Itália, onde os brasileiros foram ao combate ao lado das forças dos Estados Unidos. Filho de Homero de Melo Vasconcelos e Fausta Pimenta de Vasconcelos, Jony Pimenta de Vasconcelos foi um dos primeiros passenses a participar das batalhas na Itália partindo para a Itália no dia 22 de setembro de 1944.
Ele havia prestado um ano de serviço militar na Escola de Sargentos das Armas de Três Corações, onde havia feito o curso de sinaleiro observador. Jony passou pelo 11º Regimento de Infantaria em São João Del Rey, partindo em seguida para o Rio de Janeiro, onde integrou o grupo de expedicionários que seguia para a Itália. Foi para a guerra como 3º sargento e, no dia 02 de dezembro de 1944, teve atuação destacada quando, achando-se doente, espontaneamente voltou a assumir o comando de seu grupo ao perceber que a situação de seu pelotão era crítica, servindo de incentivo e exemplo para seus colegas de luta. No dia 14 de março de 1945, Jony foi ferido por um estilhaço de granada, machucando a coxa direita. Mesmo assim, preferiu voltar logo ao combate, recebendo por este feito a medalha “Sangue do Brasil”, concedida pela Presidência da República em 1946. Recebeu ainda outras três condecorações, inclusive uma delas por não ter sido atingido pelo chamado “Pé de trincheira”, mal que acometia a maioria dos soldados que fi - cavam muito tempo entrincheirados na neve. Participou das batalhas em Monte Castelo, Igajo Montano e Montese.

“Uma história marcante que ele contava é que um dos amigos de combate perdeu a orelha e não sentiu, porque o frio era muito intenso”
Jony faleceu em 1996, foi casado por duas vezes e teve cinco fi lhos Maria Ângela (já falecida), Arita, Yara, Marcos e Matheus. Aposentou-se no serviço militar e foi fazendeiro. Romicilda Aparecida Terra Vasconcelos, viúva do expedicionário, conta que o esposo gostava de contar os feitos e difi culdades da guerra. “Apesar de ter visto a morte de amigos do pelotão que ele participava, Jony dizia que não fi cou traumatizado com a guerra. Falava que os pracinhas do grupo em que ele estava sentiam muito frio e chegaram a passar fome. Uma história marcante que ele contava é que um dos amigos de combate perdeu a orelha e não sentiu, porque o frio era muito intenso. Outro caso que ele recordava é que eles tomavam água de um poço e colocavam uma pílula para evitar infecções. Quando eles estavam tirando a água para beber perceberam que havia um corpo dentro do poço. Muitas vezes eles achavam queijos nas casas abandonadas e aquilo era o alimento que tinham para comer”.
PLANOS ADIADOS
O jovem passense Jorge Jabur, fi lho de Abraão Jabur e Basli Esper Jabur, se preparava para o vestibular de Medicina no Rio de Janeiro em 1942, ano em que o Brasil entrou na guerra. Passou no vestibular e, três meses antes da guerra começar, foi convocado no dia 23 de junho de 1944para se apresentar em São João Del Rey, tendo que adiar os planos de ingressar na faculdade. Durante os treinamentos, chegou a ter o rosto e o peito feridos, o que lhe dava o direito de pedir desligamento, mas não o fez. Em 06 de junho de 1945 partia para a Itália a bordo do navio General Meigs, saindo da baía de Guanabara no Rio de Janeiro para o alto mar.

A despedida dos amigos e parentes e a visão do navio desatracando marcou para sempre o jovem, que se sentia de coração apertado sem saber se iria ou não voltar ao Brasil um dia. No navio, dormiam cerca de 300 homens em cada compartimento e, como havia pouco espaço, existia até um treinamento para sair em ordem e evitar que os companheiros de viagem fossem pisoteados. Jorge Jabur fi cou em Banglinioli, uma vila próxima a Nápolis. Ao contrário da maioria dos pracinhas, ele contava que não passou frio ou fome devido ao empenho do comandante americano que cuidava do pelotão que ele participava. Foi este comandante que mandou jogar fora as fardas e botas que ele e os companheiros do grupo haviam recebido e forneceu capas, luvas, uniforme e botas adequados ao rigoroso inverno europeu. Durante boa parte do período em que esteve na Itália, Jorge Jabur participou dos exercícios de guerra sob o comando dos instrutores americanos, que contava com treinamentos para avanço em campo minado, tomada de pontes, defesa pessoal, conhecimentos de equipamentos bélicos, entre outros. Para muitos combatentes, essas horas de treino eram enfadonhas e monótonas, pois na ansiedade típica da juventude o que queriam realmente era ir para a linha de frente e lutar. Jorge chegou a se preparar para o confronto final participando do grupo de esgrima-baioneta, mas não foi preciso o ataque, pois a Itália acabou se rendendo antes.
Após o fi m da guerra, Jorge continuou na Itália durante alguns meses, ajudando nos trabalhos de reorganização do país. Viajou para Pistóia e visitou o cemitério dos pracinhas brasileiros e também esteve em Roma, visitando o Vaticano onde assistiu à benção do Papa Pio XII. Ao retornar para o Brasil, cursou a faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, especializando-se como anestesista e radiologista. A pedido do pai, depois de formado, voltou para Passos, onde atendia na Santa Casa e tinha uma clínica particular. Jorge Jabur faleceu aos 91 anos em novembro de 2013. Foi casado com Wilma Jabur e pai de Míriam, Nazle, Abrão e Omar. Na memória de Nazle Badra Jabur, uma das fi lhas de Jorge, fi caram as lembranças de um pai carinhoso. “Ele era uma pessoa muito risonha, de bem com a vida. Contava que os jovens que eram convocados e não iam para a guerra eram tidos como desertores, inclusive que havia muitos casos de rapazes que contraíam doenças propositalmente para serem liberados. Na lembrança dele fi caram marcados os treinamentos realizados dentro do navio à caminho da Itália. Chegou a ver um dos amigos de combate perder o braço durante uma batalha, mas ele não era muito de contar para os fi lhos o que viveu durante a guerra”.
Filho de Felício Bordezan e Flora de Melo Correia, Djalma Bordezan seguiu para a Itália em novembro de 1944. Diferente da maioria dos expedicionários mineiros, que iam para São João Del Rey, Djalma foi convocado para compor o Regimento de Pirassunga-SP em fevereiro de 1944. Faleceu com 35 anos em São Paulo. Daphne Bordezan Fonseca, 90, irmã de Djalma é quem guarda com carinho os diversos postais e cartas, provas da correspondência entre o expedicionário e a família, onde se pode perceber o desejo do pracinha em rever os parentes. “Ele não contava muitas histórias e ficou muito pouco tempo em Passos depois de voltar da guerra Lembro-me dele falar sobre uma mulher italiana que estava para ser atacada por um soldado e o Djalma foi defendê-la. Nesta situação, ele acabou tendo a mão ferida. Ele contava que os pracinhas passaram muito frio, pois a maioria foi despreparada e ,se não fosse o auxílio dos americanos, eles teriam sofrido mais”. A família de Djalma e Daphne passava por
dificuldades financeiras quando ele foi convocado para a guerra e o jovem viu uma oportunidade de se tornar um grande homem ao participar deste importante fato da História. Após o fi nal da guerra, Djalma retornou para Pirassununga e continuou a carreira militar.
Depois, mudou-se para São HOMENAGEM DO TIRO DE GUERRA NATAL: A FESTA QUE REÚNE GERAÇÕES PASSOS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL HOMENAGEM DO TIRO DE GUERRA Atirador da 1ª Turma do Tiro de Guerra em 1940, Antônio Formágio Sobrinho integrou a Força Expedicionária Brasileira participando das operações de guerra na Itália entre 06 de outubro de 1944 e 04 de setembro de 1945, incorporado como soldado no 11º Regimento de Infantaria de São João Del Rey. Antes de embarcar para a Itália, quando Antônio estava no Rio de Janeiro, veio visitar a família. “Ele teve seis dias para despedir da família e pensava em desertar. Mas minha mãe não permitiu e disse a ele, com os olhos cheios de lágrimas: Se você desistir vai se tornar um fugitivo para o resto da vida”. Nascido em 03 de agosto de 1921 e falecido em 05 de fevereiro de 1990, Antonio Formágio Sobrinho era fi lho de Abílio Formagio e Elvira Zani. Foi casado com Glória Soares Formágio e teve três fi lhos,Antonio Carlos, Luís Alberto e Sueli, todos falecidos. “Como meu irmão era motorista, era sua função carregar os soldados mortos e levar para o cemitério. Ele dizia que a Itália vivia um período de pobreza extrema nesta época e que a maior parte da população era composta de idosos, mulheres e crianças, já que grande parte dos jovens havia morrido em combate. Em uma das correspondências, lembro que ele dizia que estava namorando uma moça italiana chamada Maria e pedia autorização de minha mãe para casar-se com ela, mas minha mãe não permitiu”, conta Oswaldo Formágio,75, irmão de Antônio. Paulo. Emocionada, Daphne recorda que o irmão tinha o sonho de se tornar sargento e estava estudando para isso, mas a morte precoce impediu que ele realizasse este desejo. “Meu irmão não chegou a se casar, mas sempre foi muito namorador. Ele era um rapaz muito bonito e lembro como se fosse hoje de quando ele veio para meu casamento trajando uma farda branca. Como meu pai nos deixou, Djalma sentia a responsabilidade de ser o homem da família. Era muito querido e uma pessoa muito honesta, que não tinha defeito”.

HOMENAGEM DO TIRO DE GUERRA

Atirador da 1ª Turma do Tiro de Guerra em 1940, Antônio Formágio Sobrinho integrou a Força Expedicionária Brasileira participando das operações de guerra na Itália entre 06 de outubro de 1944 e 04 de setembro de 1945, incorporado como soldado no 11º Regimento de Infantaria de São João Del Rey. Antes de embarcar para a Itália, quando Antônio estava no Rio de Janeiro, veio visitar a família. “Ele teve seis dias para despedir da família e pensava em desertar. Mas minha mãe não permitiu e disse a ele, com os olhos cheios de lágrimas: Se você desistir vai se tornar um fugitivo para o resto da vida”. Nascido em 03 de agosto de 1921 e falecido em 05 de fevereiro de 1990, Antonio Formágio Sobrinho era fi lho de Abílio Formagio e Elvira Zani. Foi casado com Glória Soares Formágio e teve três fi lhos,Antonio Carlos, Luís Alberto e Sueli, todos falecidos. “Como meu irmão era motorista, era sua função carregar os soldados mortos e levar para o cemitério. Ele dizia que a Itália vivia um período de pobreza extrema nesta época e que a maior parte da população era composta de idosos, mulheres e crianças, já que grande parte dos jovens havia morrido em combate. Em uma das correspondências, lembro que ele dizia que estava namorando uma moça italiana chamada Maria e pedia autorização de minha mãe para casar-se com ela, mas minha mãe não permitiu”, conta Oswaldo Formágio,75, irmão de Antônio.
Após voltar da guerra, Antônio Formágio trabalhou como motorista, carpinteiro e marceneiro. Ele foi homenageado pelo Tiro de Guerra em Passos com o Monumento Atirador Formágio, tendo o pátio de formaturas recebido o nome do expedicionário. NO TG encontra-se ainda a Galeria de ex- combatentes inaugurada em 28 de maio de 2009. “Todos os dias minha família se reunia para ouvir o programa Repórter Esso que transmitia a lista dos pracinhas mortos em guerra. Por isso, a lembrança mais bonita que eu tenho é de quando eu tinha sete anos e encontrei meu irmão depois de voltar da guerra. Ele me pegou no colo e me deu um abraço apertado”, conta Oswaldo, emocionado.
RETORNO À TERRA NATAL
Recebidos em 20 de outubro de 1945 como verdadeiros heróis, os pracinhas passenses foram recepcionados com fogos de artifício e saudados pela população. Às 20 horas, ao som da canção ofi cial dos Expedicionários, os jovens passenses foram recebidos em cortejo na Praça Getúlio Vargas. Nas palavras publicadas no jornal Arco do Triunfo pelo professor Teodoro Correia Cintra, diretor dos Festejos aos Expedicionários, cerca de cinco mil pessoas participaram do evento, quando a então Rua da 1ª Chapada recebeu o nome de Avenida dos Expedicionários, homenageando os fi lhos da terra que ajudaram a escrever este importante capítulo da História Mundial. Em 1958, durante as comemorações do centenário de Passos, foi inaugurado o Teodolito, homenagem aos Expedicionários nascidos em Passos. Durante diversas ocasiões, o Tiro de Guerra também prestou homenagens aos bravos fi lhos de Passos que não se deixaram esmorecer e lutaram bravamente durante a guerra.

Comentarios